CICLOS DE SILÊNCIO E SOMBRAS: Dimension Doom

Resenha: Dimension Doom – Prime Directive

O álbum Prime Directive, lançado em 8 de novembro de 2024 pela Eclipsys Lunarys Productions, marca um momento significativo no cenário do Death/Doom Metal brasileiro. A banda Dimension Doom, formada por músicos experientes da cena underground de Curitiba, entrega um trabalho denso e criativo, que une o peso visceral do metal com atmosferas futuristas inspiradas na ficção científica. O resultado é uma obra complexa, que transporta o ouvinte para um universo distópico, repleto de narrativas reflexivas e texturas sonoras cuidadosamente elaboradas.

Com sete faixas que totalizam mais de 45 minutos de música, Prime Directive é mais do que um álbum; é uma jornada emocional e temática que exige atenção aos detalhes. A proposta da banda é clara desde a primeira faixa: explorar os limites do som pesado ao mesmo tempo em que desafia o ouvinte com letras e composições que transcendem o trivial.

A espinha dorsal de Prime Directive está nas mãos de Fernando Nahtaivel, responsável pelos sintetizadores, bateria e composição de todas as músicas. Sua abordagem mistura o peso característico do Death Metal com o ritmo arrastado e melancólico do Doom, mas vai além ao incorporar elementos eletrônicos que evocam ambientes cósmicos e tecnológicos. As linhas de baixo de Hernan Oliveira são sólidas e criam uma base densa para as faixas, enquanto os vocais de Larissa Pires alternam entre o gutural agressivo e passagens mais cadenciadas, que adicionam uma camada emocional às músicas.

Cada faixa apresenta arranjos de guitarras diferentes, assinados por músicos convidados. Essa diversidade não compromete a coesão do álbum; pelo contrário, enriquece a experiência sonora com nuances únicas. De riffs pesados e incisivos a melodias mais atmosféricas, o trabalho de guitarras é um dos pontos altos do disco, destacando o cuidado com cada detalhe da produção.

Sobre as Faixas

Attempt at Redemption (08:06)
Abrindo o álbum com força, essa faixa estabelece o tom do que está por vir. Com riffs marcantes e mudanças de dinâmica, a música aborda uma tentativa de redenção em meio a cenários apocalípticos. A atmosfera opressiva é complementada por sintetizadores que simulam transmissões de outro mundo.
Struggle Against Humanity (06:55)
Aqui, a banda explora os conflitos internos e externos da humanidade, com destaque para o trabalho de guitarras de Rodrigo Bueno. A faixa possui uma estrutura progressiva, alternando momentos de tensão crescente e explosões de agressividade.
Dimension of Death (08:50)
A faixa mais longa do álbum, escrita por Nahtaivel, é uma verdadeira epopeia sonora. Com uma narrativa lírica que questiona os limites da mortalidade em um contexto cósmico, a música utiliza camadas de sintetizadores e arranjos de guitarra detalhados para criar um som quase cinematográfico.
Off-air Channel (07:21)
Uma das faixas mais experimentais, Off-air Channel se destaca pelo uso criativo de sintetizadores, que imitam transmissões intermitentes de uma frequência perdida. Tony Fontana entrega arranjos de guitarra que criam um contraste intrigante com a base eletrônica.
Between Humans and Giants (04:34)
Com uma pegada mais direta e pesada, essa faixa retrata batalhas épicas entre humanos e entidades colossais. O trabalho de guitarra de Rodrigo Bueno é dinâmico, alternando entre riffs esmagadores e passagens mais melódicas.
What Could Have Been (03:51)
Em tom melancólico, essa faixa é um momento de pausa reflexiva no álbum. Com melodias introspectivas e letras que evocam sentimentos de perda e arrependimento, a música é curta, mas marcante.
The Finest Path (06:15)
Encerrando o álbum com grandiosidade, The Finest Path é uma faixa que sintetiza os elementos-chave de Prime Directive. Aly Fioren contribui com arranjos de guitarra que vão do melódico ao agressivo, enquanto a letra questiona escolhas e destinos, fechando o disco com um tom de contemplação.

O processo de produção de Prime Directive é outro aspecto que merece destaque. Gravado entre 2019 e 2024, o álbum reflete a dedicação da banda em cada etapa. As gravações vocais, realizadas no Funds House Studio sob a supervisão de Aly Fioren, capturam a intensidade e a emoção de Larissa Pires com clareza e profundidade. A mixagem e masterização, a cargo de Ivan Pellicciotti no O Beco Estúdio, garantem um equilíbrio perfeito entre os elementos metálicos e as camadas atmosféricas.

O design gráfico, elaborado por Larissa Pires, complementa a temática do álbum, com uma estética futurista que reforça o conceito de ficção científica. Cada detalhe da arte reflete a mesma atenção que a banda dedicou à música, criando uma experiência completa para o ouvinte.

Prime Directive é um álbum que não apenas expande os horizontes do Death/Doom Metal, mas também reforça a importância da cena underground brasileira. A banda Dimension Doom entrega um trabalho que combina peso, melodia e narrativa de maneira magistral, criando um universo próprio onde humanidade e tecnologia colidem em uma batalha existencial.

Para fãs de som pesado e atmosferas densas, este é um disco indispensável. Seja em formato físico, pelo selo Eclipsys Lunarys Productions, ou digital, a experiência é igualmente poderosa.

Seja explorando as transmissões de Off-air Channel ou enfrentando gigantes em Between Humans and Giants, Prime Directive convida o ouvinte a desafiar seus próprios limites e se perder em uma jornada sonora única.