sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Resenha do EP "Emovere" - Obscure Sphinx (2025)

 


Emovere, o mais recente lançamento do Obscure Sphinx, surge como um EP que encapsula a essência do peso emocional e musical que a banda polonesa construiu ao longo de sua carreira. Composto por três faixas extensas — "Scarcity Hunter", "As I Stood Upon the Shore" e "Nethergrove" —, o trabalho explora temas de purificação, pecado, sofrimento e a fragilidade humana. Em pouco mais de 30 minutos, o EP transcende o post-metal convencional e se transforma em uma jornada espiritual obscura, onde cada elemento parece meticulosamente planejado para envolver o ouvinte em uma atmosfera densa, sombria e avassaladora.

"Scarcity Hunter" (0:00 - 9:47)

A abertura do EP é um mergulho imediato no desespero e na mortalidade. A letra apresenta uma narrativa visual e emocional, onde abutres caçam e dilaceram a carne, simbolizando a inevitabilidade da morte e a busca pela redenção. Os versos como "Vultures split the chest / Measure the size of a tear" evocam imagens de sofrimento visceral e introspectivo, enquanto a repetição de palavras como "shadows" e "purification" reforça a dualidade entre destruição e renascimento.

Musicalmente, a faixa é uma montanha-russa de dinâmicas. O baixo de Michał "Blady" Rejman serve como uma fundação sólida, com linhas profundas e reverberantes que criam um senso de urgência. A guitarra de Aleksander "Olo" Łukomski, por sua vez, alterna entre riffs cortantes e paisagens sonoras atmosféricas, enquanto a bateria de Mateusz "Werbel" Badacz adiciona camadas rítmicas ritualísticas que amplificam a tensão. O destaque, entretanto, é Zofia "Wielebna" Fraś, cuja performance vocal é uma mescla de agonia e autoridade. Ela transita entre gritos desesperados e vocais limpos que exalam melancolia, carregando a narrativa com intensidade emocional quase palpável.

"As I Stood Upon the Shore" (9:47 - 15:47)

A segunda faixa é uma meditação melancólica sobre perda e memória. A letra, parcialmente cantada em polonês, adiciona uma dimensão cultural e introspectiva à música, evocando uma conexão profunda com as raízes e a identidade da banda. A repetição de "Ja na brzegu stała / Ciebie czekała" ("Eu estava na margem / Esperava por você") ressoa como um mantra, uma súplica desesperada por algo que nunca retorna.

A construção musical é mais lenta e minimalista no início, com uma abordagem quase cinematográfica. A voz de Zofia é suave e fantasmagórica, como um lamento ecoando em um vazio. À medida que a faixa progride, ela se expande em um crescendo emocional devastador, onde guitarras e baixo se entrelaçam em uma parede sonora densa. O momento culminante da música é um verdadeiro ápice de dor e esperança, deixando o ouvinte imerso em um turbilhão de emoções conflitantes.

"Nethergrove" (15:47 - 30:47)

A peça final é uma epopeia que explora o conceito de pecado e redenção através de uma metáfora
poderosa: uma floresta sombria onde o pecado cresce como árvores enraizadas na carne e na alma humanas. A letra é repleta de imagens vívidas e perturbadoras, como "Silently poisoning the arbor vitae" e "Among unrepentant undergrowth / Where the translucent carrion rots", que pintam um cenário de decadência espiritual e corporal.

Musicalmente, "Nethergrove" é a faixa mais complexa e imprevisível do EP. O baixo de Michał cria uma pulsação sombria que guia a narrativa, enquanto a guitarra de Aleksander oferece camadas de riffs intricados e texturas atmosféricas. A bateria de Mateusz é explosiva, alternando entre ritmos tribais e passagens frenéticas que amplificam a sensação de caos. A performance de Zofia é mais uma vez o destaque, sua entrega vocal transborda agonia e fúria, especialmente nas seções onde ela repete "I want to push it away" como um grito de resistência e resignação ao mesmo tempo. A música culmina em um clímax catártico, encerrando o EP com uma sensação de libertação e exaustão emocional.

Cada membro do Obscure Sphinx desempenha um papel crucial em criar o som monumental de Emovere.

  • Zofia "Wielebna" Fraś (Vocais, Samples)
    Zofia é o núcleo emocional da banda. Sua habilidade de canalizar dor, raiva e melancolia em suas performances vocais é incomparável. Em Emovere, ela se apresenta como uma narradora e uma sacerdotisa, guiando o ouvinte através de rituais sonoros de purificação e introspecção. Sua presença vai além da música; ela é a força motriz que torna o trabalho do Obscure Sphinx tão visceral e inesquecível.

  • Michał "Blady" Rejman (Baixo)
    Michał é responsável por criar a base sonora que sustenta as composições da banda. Seu trabalho em Emovere é particularmente impressionante, com linhas de baixo que não apenas complementam os outros instrumentos, mas também adicionam profundidade emocional e peso às faixas.

  • Mateusz "Werbel" Badacz (Bateria)
    O retorno de Mateusz trouxe uma nova energia à banda. Sua abordagem à bateria em Emovere é tanto técnica quanto emocional, com padrões rítmicos que criam tensão e dinâmica em cada música. Ele é essencial para a atmosfera ritualística do EP.

  • Aleksander "Olo" Łukomski (Guitarra, Backing Vocals)
    Aleksander é o arquiteto das paisagens sonoras da banda. Seus riffs e texturas adicionam camadas de complexidade às composições, enquanto seus backing vocals complementam perfeitamente a performance de Zofia. Em Emovere, ele demonstra sua versatilidade, alternando entre melodias melancólicas e passagens esmagadoramente pesadas.

Emovere é mais do que um EP; é uma experiência que exige ser sentida em sua totalidade. Cada faixa é uma jornada emocional e musical que desafia o ouvinte a confrontar seus próprios medos, pecados e fragilidades. O Obscure Sphinx mostra mais uma vez por que é uma das bandas mais inovadoras e emocionantes do post-metal contemporâneo. Com Zofia no comando, guiando o ouvinte como uma sacerdotisa em um ritual sombrio, Emovere é uma obra-prima que permanecerá na mente e na alma muito tempo após a última nota desaparecer.


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