sexta-feira, 18 de abril de 2025

Brutus – Fúria e Emoção em Três Vidas

 


Brutus é uma banda belga formada em 2013 na cidade de Leuven. O trio é conhecido por uma sonoridade crua, emocional e intensa, que mistura post-hardcore, post-metal, shoegaze, punk e elementos atmosféricos do post-rock. A combinação de peso e melodia, somada a uma performance visceral, faz da Brutus uma das bandas mais singulares da cena alternativa europeia.

Integrantes

  • Stefanie Mannaerts – vocalista e baterista
    Ela é o coração da banda: canta com intensidade enquanto comanda a bateria com precisão e fúria. Sua capacidade de manter vocais emocionais e poderosos enquanto executa batidas técnicas e expressivas é impressionante.
  • Stijn Vanhoegaerden – guitarrista
    Responsável por riffs cortantes, texturas amplas e atmosferas que passeiam entre o peso do hardcore e a ambiência do post-rock.
  • Peter Mulders – baixista
    Cria linhas de baixo densas e pulsantes, sustentando o peso emocional e rítmico das músicas. Sua presença no palco é sempre marcada por entrega total.

Discografia

  1. Burst (2017)
    Álbum de estreia que trouxe a banda ao radar internacional. Temas como frustração, libertação e introspecção se fundem em faixas urgentes e diretas. Foi aclamado por sua energia bruta e emocionalidade intensa. Músicas como "All Along" e "Justice de Julia II" se destacam pela honestidade crua.
  2. Nest (2019)
    Um passo mais maduro, tanto na produção quanto nas composições. O álbum é centrado em laços humanos – amigos, família, identidade. Há mais espaço para nuances, silêncios e explosões súbitas. "War" e "Django" são exemplos do equilíbrio entre delicadeza e caos.
  3. Unison Life (2022)
    Um dos discos mais aclamados do trio. O álbum mergulha em reflexões sobre o que significa viver plenamente, encontrar felicidade e suportar o peso do cotidiano. Com sonoridades expansivas e arranjos mais complexos, faixas como "Liar" e "Dust" são hinos de vulnerabilidade e resistência.
  4. Live in Ghent (2020)
    Registro ao vivo poderoso, gravado em um show esgotado na cidade natal da banda. Captura a intensidade e a energia crua da Brutus no palco, sendo uma excelente introdução para quem quer sentir o impacto da banda ao vivo.

Estilo e Forma de Tocar

A música da Brutus é profundamente emocional, com variações dinâmicas marcantes. Começa com uma tensão controlada e explode de maneira catártica.

  • As baterias são o motor emocional: ora tribais, ora explosivas, sempre cheias de intenção.
  • As guitarras alternam entre riffs pesados e ambientes etéreos, criando camadas sonoras que ampliam a profundidade emocional.
  • O baixo atua como uma âncora que segura a intensidade, sendo muitas vezes o elo entre melodia e ritmo.
  • Os vocais de Stefanie oscilam entre o grito rasgado e o canto frágil, sempre com uma entrega autêntica, capaz de transmitir desespero, força e esperança numa mesma frase.

Ao Vivo

Os shows da Brutus são conhecidos por sua entrega total. Não há pirotecnia, figurinos ou artifícios. É suor, luz baixa e emoção no limite. A banda transforma o palco em um campo de batalha emocional, e o público sente cada batida, cada grito, cada silêncio.

Stefanie Mannaerts – bateria e vocais

Stefanie é o coração rítmico e emocional da banda, e suas influências são tão diversas quanto sua performance. Ela cresceu ouvindo desde punk até pop alternativo, o que se reflete em sua maneira singular de tocar e cantar.

Influências principais:

  • Ben Koller (Converge) – sua forma de tocar é intensa, técnica e explosiva, algo que Stefanie incorpora nos momentos mais agressivos da Brutus.
  • John Bonham (Led Zeppelin) – inspiração para a pegada forte e criativa, especialmente no uso de viradas dramáticas.
  • Taylor Hawkins (Foo Fighters) – energia crua e versatilidade de palco.
  • Karin Dreijer (Fever Ray / The Knife) – inspiração vocal e estética, especialmente no uso de camadas e timbres vocais não convencionais.
  • Emma Ruth Rundle & Chelsea Wolfe – referências líricas e de atmosfera: dor, beleza e vulnerabilidade.

Ela também cita a influência de Stevie Nicks no aspecto emocional da performance vocal.

 Stijn Vanhoegaerden – guitarra

Stijn é o arquiteto das paisagens sonoras da banda. Seu estilo combina peso e ambiência, muitas vezes trazendo influências tanto do metal quanto do post-rock.

Influências principais:

  • Explosions in the Sky / Mogwai – uso de guitarras com delay e reverb para criar atmosferas largas e emotivas.
  • Russian Circles – riffs instrumentais densos e hipnóticos.
  • Deftones – alternância entre o peso esmagador e momentos suaves e etéreos.
  • The Dillinger Escape Plan – estruturas imprevisíveis e tensão rítmica.
  • Fugazi – ética DIY e pegada direta, mas inteligente.

Stijn tem um papel importante em manter o equilíbrio entre o caos e o controle nas composições da Brutus.

 Peter Mulders – baixo

Peter segura o chão da banda. Sua maneira de tocar é sólida, com bastante groove, mas também emocional. Ele reforça tanto a densidade das guitarras quanto o impacto da bateria.

Influências principais:

  • Tool (Justin Chancellor) – linhas de baixo criativas e cheias de textura, que dialogam com a guitarra de forma melódica e rítmica.
  • Isis / Cult of Luna – peso e atmosfera no baixo, construindo tensão e liberação.
  • Refused – influência comum entre os três membros, especialmente na energia bruta e na abordagem quase política de composição.
  • At the Drive-In – intensidade e urgência.

Peter também é conhecido por ajudar na construção da identidade lírica e visual da banda, colaborando com Stefanie na criação dos conceitos dos álbuns.

 Convergência de Estilos

Brutus é o que acontece quando:

  • uma baterista-vocalista vinda do punk e do indie experimental,
  • um guitarrista com raízes no post-rock e metal alternativo,
  • e um baixista influenciado por post-metal e art punk
    se encontram para fazer música sem se prender a um gênero específico.

Essa fusão de referências permite que o Brutus explore desde explosões de fúria até momentos de contemplação silenciosa, com autenticidade total.

Como as Influências se Traduzem no Som do Brutus

 Stefanie Mannaerts

O que torna Stefanie única é sua capacidade de traduzir emoção em cada batida e cada frase vocal. Diferente de muitos vocalistas de rock alternativo, ela não canta para impressionar — ela canta como se estivesse exorcizando algo. E isso vem de referências como:

  • Emma Ruth Rundle → introspecção e letras confessionais.
  • Converge (Ben Koller) → a fluidez com que ela alterna entre padrões caóticos e momentos de controle total na bateria.
  • The Knife (Karin Dreijer) → seu uso não convencional da voz: agressiva, frágil, cortante.

Você percebe isso em músicas como:

  • "War" – onde ela alterna entre gritos e vocal melódico, enquanto mantém uma bateria tribal e incansável.
  • "Liar" – com uma linha vocal quase sussurrada que cresce até se romper em grito catártico.

 Stijn Vanhoegaerden

Stijn tem uma sensibilidade que equilibra o caos do post-hardcore com o lirismo do post-rock.

Ele usa pedais de delay e reverb para criar camadas expansivas, mas sabe exatamente quando cortar tudo com um riff sujo e direto, como fazem bandas como Deftones ou Russian Circles.

Você pode perceber isso em:

  • "Sugar Dragon" – começa em um crescendo lento e atmosférico, e termina numa parede sonora de ruído e emoção.
  • "Techno" – riffs angulares e com dissonância lembrando o math-rock ou pós-punk, mas ainda com muito peso.

 Peter Mulders

Peter talvez seja o menos “visível” no som do Brutus, mas é o que dá peso e profundidade.

Suas linhas de baixo são mais do que acompanhamento — elas carregam tensão emocional. Ele dá aquele toque de post-metal na estrutura das músicas, permitindo que a banda construa e destrua paisagens sonoras lentamente.

Ouça:

  • "Horde II" – linha de baixo minimalista e hipnótica, que serve de fundação para a tensão.
  • "What Have We Done" – o baixo comanda o ritmo sombrio e dá densidade emocional à faixa.

 

Playlist: As Raízes do Brutus

Aqui vai uma sugestão de playlist com faixas que refletem as influências citadas e ajudam a entender o DNA do Brutus:

Stefanie Mannaerts

  1. Converge – Concubine
  2. Emma Ruth Rundle – Marked for Death
  3. The Knife – Silent Shout
  4. Led Zeppelin – When the Levee Breaks
  5. Chelsea Wolfe – Feral Love

Stijn Vanhoegaerden

  1. Russian Circles – Harper Lewis
  2. Deftones – Diamond Eyes
  3. Mogwai – Ratts of the Capital
  4. The Dillinger Escape Plan – Black Bubblegum
  5. Fugazi – Waiting Room

Peter Mulders

  1. Tool – Forty Six & 2
  2. Isis – So Did We
  3. Cult of Luna – Ghost Trail
  4. Refused – New Noise
  5. At the Drive-In – One Armed Scissor

Essa lista mostra o espectro de referências que se entrelaçam no som do Brutus: emocional, técnico, pesado, atmosférico e real.

Curiosidades sobre o Brutus

 1. Stefanie aprendeu a cantar e tocar bateria ao mesmo tempo por necessidade

No começo da banda, não havia vocalista. Stefanie, que já era baterista, assumiu os vocais por acidente. Eles não queriam procurar alguém de fora, então ela disse: “eu tento”. Hoje, isso virou uma das marcas registradas da Brutus. Ela mesma disse em entrevistas que “ainda está aprendendo” como fazer isso ao vivo sem perder fôlego — mas ninguém diria.

 2. Eles quase não usam setlists fixos nos shows

Apesar das músicas terem estruturas complexas, a banda é conhecida por improvisar a ordem ao vivo dependendo do clima do público e da energia do dia. Isso mantém as performances frescas e instintivas.

 3. A banda canta em inglês, mas fala holandês (flamengo) entre si

Como são de Leuven (parte flamenga da Bélgica), o idioma nativo é o holandês. No entanto, eles escrevem todas as músicas em inglês, por ser mais universal e por influência das bandas que escutam desde adolescentes.

 4. As letras de Stefanie são sempre autobiográficas

Stefanie não escreve ficção. Todas as letras do Brutus partem de experiências pessoais, muitas vezes dolorosas. Ela já disse que não conseguiria cantar algo que não tivesse vivido. Por isso, os temas das músicas costumam envolver ansiedade, perda, expectativas, autoimagem e frustrações internas.

 5. A música “Sugar Dragon” foi inspirada por um colapso mental

Essa música do álbum Nest surgiu após Stefanie ter um colapso de exaustão durante uma turnê intensa. É uma música longa, atmosférica e emocional, e serviu como espécie de catarse para ela.

 6. Metalheads e fãs de indie amam a banda igualmente

A Brutus consegue algo raro: agradar tanto o público do metal/post-metal/post-hardcore, quanto o pessoal mais indie/alternativo/post-rock. Eles já dividiram palco com Russian Circles, Chelsea Wolfe, Thrice, Deafheaven, Architects e Amenra, além de fazerem turnês próprias com casa cheia.

 7. O clipe de “War” foi gravado sem roteiro e em take único

Queriam capturar algo espontâneo, então colocaram Stefanie num galpão abandonado, com a câmera girando 360º enquanto ela performava a música ao vivo — não playback. A sensação de urgência no clipe é real.

 8. O nome Brutus não tem um significado direto

Eles escolheram “Brutus” simplesmente porque queriam algo curto, forte e ambíguo. Não tem ligação direta com o personagem histórico (o traidor de Júlio César), mas gostam do fato de ser um nome com múltiplas interpretações possíveis.

 9. A arte visual é quase toda pensada por eles mesmos

Peter Mulders tem forte envolvimento na parte gráfica da banda. Ele trabalha com design e fotografia e colabora diretamente com artistas para criar capas, clipes e merchandising. O conceito de Nest, por exemplo, foi todo idealizado por eles, com a ideia de “criar e proteger um espaço seguro”.

 10. Fizeram turnês exaustivas sem apoio de gravadora no início

Nos primeiros anos, o Brutus bancava as turnês do próprio bolso. Dormiam no chão, carregavam equipamento em carros próprios e vendiam merch no final dos shows. Só depois do sucesso de Burst é que começaram a receber apoio internacional, especialmente da gravadora americana Sargent House, que também representa bandas como Chelsea Wolfe, Russian Circles e Emma Ruth Rundle.

O Brutus é mais do que uma banda — é um grito do fundo do peito, uma válvula de escape emocional convertida em som. Nascido da cena underground belga, o trio construiu uma identidade única ao reunir o peso do metal, a urgência do punk, a melancolia do post-rock e a sensibilidade do indie alternativo — tudo com uma entrega brutalmente honesta.

Cada integrante carrega suas influências de forma transparente, mas é na união desses mundos que o Brutus se torna especial. Seja nas batidas explosivas e vocais intensos de Stefanie, nos riffs atmosféricos de Stijn ou nas linhas de baixo densas de Peter, há sempre um fio condutor: emoção pura, sem filtro.

Eles não estão interessados em seguir tendências ou soar “perfeitos” — eles querem ser reais. E por isso, conseguem tocar pessoas de diferentes cenas, gerações e contextos.

O Brutus não é uma banda para ouvir distraidamente. É pra sentir com o corpo inteiro. É música pra momentos de silêncio interno ou tempestade emocional. É pra quando você não consegue explicar o que sente — e precisa que alguém grite por você.




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