domingo, 7 de setembro de 2025

Blackwater Holylight – If You Only Knew (EP, 2025)

 



Há bandas que constroem sua identidade na grandiosidade dos álbuns longos, e outras que encontram no formato curto a chance de revelar um retrato direto, quase cru, de quem são naquele momento. O novo EP do Blackwater Holylight, If You Only Knew, lançado em abril de 2025 pela Suicide Squeeze, é exatamente isso: um mergulho breve, mas intenso, em quatro canções que transitam entre melancolia, peso e uma espécie de catarse coletiva que só a banda parece dominar.

Desde sua estreia, o quarteto de Portland se destacou pela habilidade de equilibrar contrastes riffs densos que parecem ruir montanhas convivem lado a lado com melodias vocais frágeis, quase confessionais. Aqui, esse jogo se intensifica: cada faixa parece falar tanto do enfrentamento individual quanto da partilha universal das incertezas.

Wandering Lost” abre o disco com a força de um ritual. Um piano etéreo e a voz delicada de Sunny Farris convidam para um espaço de contemplação, mas logo a música se ergue como uma onda: guitarras carregadas de fuzz e uma bateria monumental transformam a tristeza em energia coletiva. É o tipo de canção que parece nascer da dor, mas se transforma em comunhão.

Na sequência, “Torn Reckless” mergulha no território do shoegaze e do dream-pop, deixando que camadas de guitarras envolvam o ouvinte como uma névoa elétrica. A voz surge em meio ao turbilhão, às vezes quase apagada pela parede sonora, reforçando a sensação de dúvida e transição que a letra sugere. É como estar diante de uma porta que se abre para algo desconhecido: hesitação e fascínio em igual medida.

Virando o lado, “Fate Is Forward” mostra a banda brincando com a dinâmica do alt-rock dos anos 90, alternando calmaria e explosão. É talvez a faixa mais terrena do EP, com uma energia quase grunge, mas ainda marcada pelo refinamento atmosférico que é assinatura do grupo. A letra fala sobre aceitar que certos obstáculos são intransponíveis e que, em vez de insistir, é preciso aprender a seguir em frente uma mensagem que ecoa de forma simples, mas poderosa.

O encerramento vem com uma ousadia: uma versão de “All I Need”, clássico do Radiohead. Em vez de reproduzir a intensidade claustrofóbica do original, o Blackwater Holylight expande a canção para um horizonte mais amplo, feito de drones, camadas hipnóticas e uma sensação de desespero que não sufoca, mas envolve. É um tributo respeitoso e, ao mesmo tempo, uma afirmação de identidade prova de que a banda não teme dialogar com gigantes, mas o faz à sua maneira.

Na produção, as escolhas também reforçam os contrastes: as duas primeiras músicas, sob comando de
Sonny DiPerri, soam mais polidas e envoltas em reverberações, enquanto as últimas, registradas com Dave Schiffman, têm pegada mais direta e crua. Essa divisão não quebra a unidade; pelo contrário, dá ao EP duas faces complementares, como se mostrasse o grupo em dois espelhos diferentes.

No fim, If You Only Knew é menos sobre respostas e mais sobre perguntas. É um trabalho que respira incerteza, transição e vulnerabilidade, mas que também ergue muralhas sonoras para transformar fragilidade em força. Em apenas quatro músicas, o Blackwater Holylight reafirma o que já sabíamos que é uma das bandas mais singulares da cena atual e insinua que o futuro ainda guarda caminhos inesperados.

Nota pessoal: um trabalho curto, mas profundo, que deixa o ouvinte em suspensão. Um passo corajoso que merece ser ouvido de olhos fechados e coração aberto.


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