Desde sua estreia, o quarteto de Portland se destacou pela habilidade de equilibrar contrastes riffs densos que parecem ruir montanhas convivem lado a lado com melodias vocais frágeis, quase confessionais. Aqui, esse jogo se intensifica: cada faixa parece falar tanto do enfrentamento individual quanto da partilha universal das incertezas.
“Wandering Lost” abre o disco com a força de um ritual. Um piano etéreo e a voz delicada de Sunny Farris convidam para um espaço de contemplação, mas logo a música se ergue como uma onda: guitarras carregadas de fuzz e uma bateria monumental transformam a tristeza em energia coletiva. É o tipo de canção que parece nascer da dor, mas se transforma em comunhão.
Na sequência, “Torn Reckless” mergulha no território do shoegaze e do dream-pop, deixando que camadas de guitarras envolvam o ouvinte como uma névoa elétrica. A voz surge em meio ao turbilhão, às vezes quase apagada pela parede sonora, reforçando a sensação de dúvida e transição que a letra sugere. É como estar diante de uma porta que se abre para algo desconhecido: hesitação e fascínio em igual medida.
Virando o lado, “Fate Is Forward” mostra a banda brincando com a dinâmica do alt-rock dos anos 90, alternando calmaria e explosão. É talvez a faixa mais terrena do EP, com uma energia quase grunge, mas ainda marcada pelo refinamento atmosférico que é assinatura do grupo. A letra fala sobre aceitar que certos obstáculos são intransponíveis e que, em vez de insistir, é preciso aprender a seguir em frente uma mensagem que ecoa de forma simples, mas poderosa.
No fim, If You Only Knew é menos sobre respostas e mais sobre perguntas. É um trabalho que respira incerteza, transição e vulnerabilidade, mas que também ergue muralhas sonoras para transformar fragilidade em força. Em apenas quatro músicas, o Blackwater Holylight reafirma o que já sabíamos que é uma das bandas mais singulares da cena atual e insinua que o futuro ainda guarda caminhos inesperados.
Nota pessoal: um trabalho curto, mas profundo, que deixa o ouvinte em suspensão. Um passo corajoso que merece ser ouvido de olhos fechados e coração aberto.
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