Entre 2024 e 2025, Mortem Solis amadureceu artisticamente com singles como “The Hermit Song”, “O Eterno Se Esvai…” e “Fragile Hope”, preparando terreno para a obra mais ambiciosa: o álbum de estreia “Hermetic”, lançado em julho de 2025.
“Hermetic” não é apenas um registro musical é um manifesto existencial. Aqui, Null apresenta não só composições, mas também uma cartografia da alma em conflito, um mapa onde solidão, morte e esperança rarefeita se entrelaçam.
A jornada começa com “Nós, Pássaros Cadavéricos”, uma introdução breve que parece um grito de corpos que insistem em voar mesmo após a morte. É um prólogo sombrio, quase um rito de abertura, que avisa: a partir daqui, não se volta mais.
Em seguida, “O Eterno Se Esvai...” mergulha no tema da finitude, traduzindo em som o desgaste do tempo e a inevitabilidade do fim. O riff carrega o peso do desmoronar, enquanto a voz distante ecoa como se fosse já um espectro.
A quarta faixa, “Anunciadora da Morte”, devolve o ouvinte à agressividade e ao frio cortante do Black Metal cru. É um aviso, uma presença inevitável, como a sombra que se projeta antes que a lâmina caia.
E então chegamos a “Eco do Silêncio”, o momento mais longo e profundo do álbum. Aqui o vazio é tratado como entidade. Não é apenas a ausência de som, mas uma presença sufocante, uma força que molda e oprime. A cada verso, a cada riff dilatado, o silêncio se torna um personagem vivo, conduzindo o ouvinte a confrontar sua própria solitude.
Após o mergulho profundo em “Eco do Silêncio”, o álbum se abre para “Fragile Hope”, uma das faixas mais contrastantes de todo o trabalho. Se até então Mortem Solis havia se debruçado sobre a morte, o isolamento e o vazio, aqui encontramos uma fagulha quase improvável a fragilidade da esperança. Mas é importante frisar não se trata de uma esperança solar, redentora ou triunfante. É uma chama que treme diante do vento, uma centelha que sobrevive apesar do peso esmagador do mundo. Musicalmente, essa dualidade se traduz em passagens melódicas mais delicadas que se enroscam em guitarras ásperas, como se a própria música lutasse para permanecer de pé.
Na sequência, “Ode to Melancholy” surge como um fechamento simbólico. Ao optar por encerrar o álbum com uma ode à melancolia, Null reforça a linha mestra do projeto: a aceitação da tristeza como parte intrínseca da existência. Não há aqui a tentativa de escapar da dor, mas de compreendê-la, quase reverenciá-la. A escolha de encerrar com um cover também sugere um diálogo, uma ponte entre a criação autoral e a tradição, como se Mortem Solis estivesse inserindo sua voz em uma corrente mais ampla da arte sombria.
Com isso, “Hermetic” se estabelece não apenas como um disco de estreia, mas como um marco conceitual dentro da trajetória da banda. Cada faixa funciona como um capítulo, cada letra como fragmento de um livro sagrado escrito em sombras. O álbum não busca agradar ou entreter ele exige entrega total, quase como um ritual.
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