Entre Ruínas Cósmicas e Realidades Partidas: Uma Viagem com o Labyrinthus Stellarum
Formada em Odessa, na Ucrânia, em 2021, a banda Labyrinthus Stellarum emergiu como uma entidade sonora que ultrapassa os limites do black metal atmosférico, fundindo paisagens eletrônicas densas com conceitos de ficção científica especulativa. Liderada pelos irmãos Oleksandr Andronati (vocais, sintetizadores, letras, produção) e Mykhailo Andronati (guitarras, co-produção, mixagem e masterização), a banda também contou com Dmytro Bokhan na programação de bateria do álbum Vortex of the Worlds (2024) e com Oleksandr Kostetskyi, guitarrista original até 2023.
Em apenas poucos anos, o Labyrinthus Stellarum construiu uma discografia que convida o ouvinte a uma jornada por realidades paralelas e ruínas cósmicas. O álbum de estreia Tales of the Void (2023) apresentou um universo sonoro desolado e grandioso, onde o niilismo existencial encontra a poeira de mundos esquecidos. Com Vortex of the Worlds (2024), a banda aprofundou seu alcance filosófico e ampliou sua paleta sonora, desafiando ainda mais as convenções do gênero.
No dia 2 de maio de 2025, eles lançaram seu terceiro trabalho, Rift in Reality considerado até agora o mais experimental e diverso da carreira. Combinando faixas épicas e melódicas com momentos de maior agressividade, o álbum marca uma nova fase da banda, inclusive com o uso mais marcante de vocais limpos. A capa, assinada por Mark Cooper, artista conhecido por colaborações com Rings of Saturn e Brand of Sacrifice, reflete visualmente a complexidade do universo sonoro criado pelo grupo.
Nesta entrevista, mergulharemos nas origens, na visão artística e no processo criativo do Labyrinthus Stellarum uma banda que não apenas faz música, mas constrói mundos.
1. Labyrinthus Stellarum surgiu em meio a uma já sólida cena de black metal ucraniano. Como
vocês descreveriam a formação da banda e o que motivou a criação de um projeto com um conceito tão cósmico e atmosférico?
A formação da banda foi bastante espontânea e, na verdade, não tinha a intenção de gerar novas músicas. Oleksandr Kostetsky apareceu um dia e sugeriu fazermos um álbum no estilo do Lustre. Quanto ao estilo, sempre fomos extremamente ligados à atmosfera do espaço por causa dos filmes, livros e jogos da nossa infância.
2. Desde o início, vocês demonstraram uma forte identidade conceitual e estética. Como é o processo criativo de vocês, desde a composição até a construção das narrativas que sustentam cada obra?
Nosso processo criativo é bastante sequencial. Primeiro, a música começa com um esboço que contém as melodias e riffs mais importantes. Depois disso, criamos as melodias vocais e as letras. Em seguida, ajustamos a música para que funcione melhor com os novos vocais.
Do ponto de vista técnico, o processo é complicado, já que Misha Andronati está na Alemanha e Alex Andronati na Ucrânia. Por isso, nos reunimos via Discord para compor juntos.
3. Tales of the Void apresentou o universo sonoro de vocês com grande intensidade. Quais foram os maiores desafios e descobertas durante a criação do álbum de estreia?
A criação do álbum Tales of the Void foi, de certa forma, como andar no escuro. Nosso objetivo era lançar música, riscar esse desejo da lista. Não esperávamos que o álbum fosse tão bem recebido.
Apesar disso, trabalhamos duro para que ele fosse coeso, com todas as faixas fluindo bem entre si.
O maior desafio foi, sem dúvida, a mixagem, pois não tínhamos muita experiência na época e isso exigiu bastante trabalho.
4. Vortex of the Worlds revelou uma evolução notável na complexidade das faixas e no uso de elementos eletrônicos. Quais novas ideias ou influências moldaram esse segundo trabalho?
Enquanto tivemos inspirações claras para o primeiro álbum, não tivemos nenhuma para Vortex of the Worlds e para o terceiro disco. Queríamos criar algo novo, mais pesado, mais dinâmico e mais eletrônico, mas ainda assim dentro do nosso conceito original.
5. Com o lançamento de Rift in Reality, considerado o trabalho mais experimental e diverso até agora, como foi o processo de composição e gravação desse álbum?
Não houve muita diferença entre o processo do segundo e do terceiro álbuns. Com Rift in Reality, queríamos tornar nosso som ainda mais pesado.
Fomos um pouco inspirados por Lorna Shore, mas sem mudar nossa essência: mais peso, mais diversidade, mais melodia e mais elementos eletrônicos.
6. As letras de vocês são profundamente filosóficas e abstratas, abordando temas como inteligência artificial, decadência planetária e transcendência. Qual é o papel da literatura ou da ciência (especialmente a cosmologia) na construção dessas letras?
No início, nossas letras não abordavam nada específico. Mas a partir do segundo álbum, decidimos tornar cada música parte de uma narrativa contínua dentro do nosso universo.
A ficção científica sempre nos fascinou, desde a infância com livros, filmes e jogos influenciaram nosso amor pelo espaço.
Queríamos escrever letras que não fossem banais, fugindo de temas como amor ou política, mas que ainda assim fossem envolventes.
7. Vocês usam sintetizadores, programações e ambientações espaciais como elementos essenciais.
Como equilibram isso com o peso e a agressividade típicos do black metal?
Isso não é tão difícil quanto parece. Os elementos clássicos do black metal e os riffs não entram em conflito com os sintetizadores eles se complementam.
Nossa música é centrada nos sintetizadores, então os riffs acabam sendo mais espaçados do que no black metal tradicional.
8. O black metal costuma explorar temas religiosos, históricos ou ocultistas. O que levou vocês a direcionar o foco para a ficção científica e o niilismo cósmico?
Não somos religiosos nem antirreligiosos, então nunca pensamos em escrever sobre isso. O mesmo vale para o ocultismo.
Quanto à história, não somos especialistas e achamos mais interessante desenvolver nossa própria mitologia sci-fi.
9. Como a banda tem sido recebida na Ucrânia e na Europa em geral? Vocês sentem que o público se conecta com essa proposta futurista e atmosférica?
Curiosamente, nossa banda é mais popular no Ocidente do que na Ucrânia, provavelmente por causa do idioma em que cantamos.
Mas na Ucrânia também temos um público fiel.
Muitos comentários e resenhas destacam a atmosfera espacial como o principal atrativo: o vazio, o incompreensível, a grandiosidade do cosmos.
10. As apresentações ao vivo de vocês são raras, mas imersivas. Como vocês imaginam a experiência ao vivo dentro desse conceito galáctico? Há planos para novos shows ou turnês?
No momento, ainda não temos uma estética de palco totalmente desenvolvida é algo que precisamos trabalhar para tornar os shows mais impactantes.
Vamos tocar no festival Faine Misto Fest em agosto de 2025, além de outro show em julho. Se possível, faremos uma turnê pela Ucrânia no outono.
Nosso sonho é fazer uma turnê pela Europa, mas a guerra tem impedido isso. Assim que for possível, iremos realizar.
11. Quais bandas ou projetos (dentro ou fora do metal) vocês consideram influências fundamentais para o som e a estética do Labyrinthus Stellarum?
Toda música que ouvimos é uma fonte de inspiração consciente ou inconsciente.
Nos inspiramos muito em artistas que misturam metal com eletrônica, como:
Celldweller, Bring Me The Horizon, Rings of Saturn, Starset
No black metal, destacamos:
Lustre, Eldamar, Mesarthim, Blut aus Nord,Windveill
Fora do metal:
Jean Michel Jarre, Carpenter Brut, Ben Prunty (com destaque para a trilha sonora de FTL)
12. O aspecto visual do trabalho de vocês é marcante. Já consideraram expandir esse universo
para outros formatos como romances gráficos, filmes, jogos ou experiências audiovisuais?
Sim, no futuro gostaríamos muito de criar um livro ou um jogo baseado na nossa história.
São planos a longo prazo, pois no momento não temos os recursos necessários, mas estamos trabalhando no desenvolvimento do nosso universo sci-fi.
13. Que tipo de legado vocês esperam deixar com o Labyrinthus Stellarum? Existe um propósito maior por trás dessa jornada artística pelos abismos do espaço e da mente?
Nosso desejo é fazer o maior número possível de álbuns incríveis, proporcionar emoções e momentos únicos às pessoas.
Mas, acima de tudo, fazemos isso porque nós simplesmente amamos pra caralho fazer música!
País: Ucrânia
Gênero: Black Metal Atmosférico / Cósmico / Experimental
Atividade: Desde 2021
Último Lançamento: Rift in Reality (2025)
Gravadoras: Archivist Records (CD), Northern Silence Productions (Vinil)
Oleksandr (Alex) Andronati – vocais, letras, compositor, mixagem, produção Mykhailo (Misha) Andronati – guitarras, co-composição, co-produção, mixagem, masterização Dmytro Bokhan – programação de bateria (Vortex of the Worlds) Oleksandr Kostetskyi – guitarrista original (2021–2023)
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